domingo, 6 de julho de 2014

Instinto de Sobrevivência, por Leandro Campos Alves.

Instinto de Sobrevivência

 
 
 
 

Romance Instinto de Sobrevivência

15/12/2013 01:21

 

                                               


 
  
 
Instinto de Sobrevivência 1
LEANDRO CAMPOS ALVES
INSTINTO DE SOBREVIVÊNCIA
ROMANCE
2013
 
 página 02
 
Diagramação e Capa
Leandro Campos Alves
 
Revisão. Nádia Maria Corrêa Gonçalves
 
Colaboradores.
Rosilene Alessandra de Souza Alves.
Teresinha Campos Oliveira.
Brendow Alisson de Souza Alves
 
Todos os direitos são reservados. Publicado de acordo com original registrado e averbado na biblioteca nacional.
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, sem permissão expressa do autor (Lei número 9.610, de 19.02.98).
Instinto de Sobrevivência 
                                                                        página 03
Agradecimentos
 
Agradeço a Deus que me deu o dom de redigir com a maestria da sabedoria oculta em meu ser.
Também agradeço as pessoas que Deus pôs em minha vida como instrumentos de sua vontade, servindo-o como anjos materializados.
Agradeço a todas as pessoas que de uma forma ou de outra vieram a fazer parte da minha vida. Algumas delas da forma mais positiva possível, e outras, que através dos males feitos me fizeram crescer.
Agradeço aos meus pais e irmãos, que sempre estiveram comigo em todas as horas, independentemente de serem momentos alegres ou tristes, mas se mantiveram firmes em dar-me o apoio necessário.
A minha esposa, que sempre se manteve presente, em todo momento de inspiração da criação desta obra, lendo-a e dando o seu parecer a cada página redigida.
Também agradeço aos que já partiram, e que nos deixaram como legado de sabedoria a sua história e os seus ensinamentos.
Deixo aqui de antemão o agradecimento aos que lerem esta obra, mesmo aos que a criticarem negativamente, pois a critica servem como aprendizagem aos que tem coragem de se aventurar por outros horizontes.
A todos, eu deixo os meus sinceros agradecimentos, e que Deus esteja sempre em suas vidas, abençoando-lhes e mostrando-lhes o verdadeiro caminho.
 
página 04
 
Prefácio
 
A vida nos surpreende a cada instante e nos ensina a viver com os nossos acertos e nossos erros. Assim se faz a nossa história.
Cada ser humano tem um livro escrito, podendo ser grande cheio de páginas e histórias, como ser um livro vazio, com pouquíssimas páginas ou até mesmo nenhuma, dependendo de nossas obras aqui feitas ou pela falta delas.
Com esta história poderemos descobrir que não devemos julgar ninguém, porque se olharmos pelo ponto de vista de cada um; veremos que uma mesma história pode ter várias interpretações, porém seus atos serão únicos.
Aos desavisados informo-lhes, que este romance não se trata de uma autobiografia, por ele não respeitar na íntegra a cronologia dos fatos, possuindo em seu teor algumas crônicas fictícias adicionadas propositadamente.
Mas em sua maior parte foram situações reais e verídicas, acontecidas com pessoas que conheço e com quem tive o prazer de conviver, que deixo no anonimato, a fim de preservar sua história pessoal.
Mas com toda certeza, cada pessoa aqui relatada irá se identificar rapidamente com o personagem descrito e saberá a parte que lhe toca.
Muitas outras pessoas irão também se identificar com esta história, podendo ser uma mera coincidência.
Para todo romance que se preza, temos que lhe dar um fim condizente. Para minha surpresa este livro começou a ser
 
                                                             página 05
 
escrito pelo final, pois a primeira página redigida por mim foi exatamente a última desta obra.
Tive o cuidado de redigir toda a história com a compatibilidade do encerramento que já estava criado e com a inclusão dos fatos reais por estes personagens vividos.
E a partir de certa altura do texto, todo ele foi criado e elaborado para condizer com o encerramento.
Mortes foram inventadas e nascimento criado.
Entretanto em seu maior teor; tive o prazer de contar a história de luta e vitórias de uma família contemporânea e unida pelos mesmos ideais.
Podemos com isto ter a certeza que em nosso mundo ainda existem muitos romances a serem descobertos e copiados, cada qual com seus personagens diferentes e suas histórias de superação.
Algumas vezes vocês irão rir com os fatos relatados ou chorar com a realidade encontrada em nosso mundo, dentro de nossas próprias famílias.
Mas também irão se envolver com as superações e com exemplos de vida, trilhadas de várias formas pelos nossos personagens.
Personagens estes que escolheram o caminho da perseverança e da fé em dias melhores.
Agora lhes deixo com a história de vida que ira lhes levar ao extremo dos sentimentos.
 
página 06
Instinto de Sobrevivência
 
 
Inicio Romance
 
Como o alvorecer incandescente de um novo dia, pessoas se encontram, se olham e se admiram, e o tempo passa por nossos olhos, e a vida tem que prosseguir em seu constante ritmo, para que os destinos se cumpram.
Assim se criam os momentos e as oportunidades, e em um destes momentos da vida, dois jovens se encontram com um simples olhar penetrante que perfura as suas almas.
O amor se abre desabrochando como uma tulipa para aqueles jovens. O magnetismo do querer se faz presente.
Ele, nove anos mais velho, um jovem atraente e bem resolvido em seus atos, com sua vida inteira a construir, já profissionalmente iniciado aos afazeres administrativos, almejando uma vaga em uma grande agência bancária privada.
Ela uma menina adolescente e sonhadora, que como tantas outras, buscam insanamente seus príncipes encantados com porte heróico e protetor.
A vida em um golpe mágico, pos estes dois seres de frente um ao outro, acendendo em seus olhares o sentimento da atração, contagiando-se pelo frio na espinha, ocasionado pelos sentimentos que até então para aquela jovem estava oculto em sua existência.
Neste momento a jovem percebeu que sua imensurável procura acabara ali, antes mesmo que pudesse ter muita experiência nos sentimentos do coração, que na maioria das vezes sobressaí à razão.
Para a jovem surge o seu primeiro namorado e porque não, poderíamos até afirmar que seria seu único.
A época em que os fatos ocorreram era bem propícia à história, nos ditos anos dourados, mesmo estando o país próximo a passar por mais uma de suas revoluções internas, podendo ser o jovem chamado a prestar o serviço militar, por
 
página 10
que ele estava à beira do alistamento. A história ocorria em torno de mil novecentos e sessenta e quatro.
Nesta época os valores eram outros, encontravam-se sentimentos puros e sinceros.
Não existia o mal da era atual, que veio com os movimentos de quebra de dogmas e conceitos sociais, com a inclusão dos movimentos de liberdade sexual.
Pois entre os jovens amantes existia a atmosfera do romantismo lírico e poético, o amor se fazia eterno. Uma época que amar era fazer o tempo parar na presença da pessoa amada, e ficar não era um definição conhecida e costumeira aos amantes.
Para estes dois jovens; nascia um conto da vida real, baseado no recato pelo encanto do amor e da proteção a pessoa amada, movido pela supremacia do respeito e do carinho mútuo, como em um verdadeiro conto de fadas.
Mas nas entrelinhas com o passar do tempo, porque não dizer que este jovem casal poderia deparar-se com os espinhos oriundos da vida a dois.
Neste clima da paixão os jovens se fizeram na fusão de seus sentimentos em uma unidade, afirmando por este forte sentimento o relacionamento em namoro.
Porém as dores da distância iriam regar de solidão e tristeza este romance por um ano.
Como todo jovem da sua idade não ficaria de fora da convocação militar, por motivo do movimento político revolucionário, Carlos teria a obrigação de servir o país, não sabendo se voltaria vivo ou não.
Este seria um ano de trevas e angústia para ambos.
Para a jovem menina a sua dor e angustia seria dobrada, pois seu irmão também fora convocado, restando apenas as cartas como meio de comunicação entre eles.
 
página 11
 
A revolução foi como um vestígio de pólvora, que mal se inicia e acabou rapidamente, por sorte a convocação duraria apenas um ano.
Logo que cessou a guerrilha, entre mortos e feridos salvaram-se ambos. Com o regresso dos jovens após a dispensa, deu-se o noivado, e com quatro anos de relacionamento o tão sonhado casamento.
Alguns familiares aceitavam esta união com o maior carinho, mas como nada é inteiramente perfeito; outros não concordavam, ao mesmo tempo repudiavam esta união.
Movidos pelos sentimentos que as classes sociais implantavam em seu meio, dentro da família do noivo houve muitos que lhe aconselharam a largar aquela decisão de se casar, pois lhe diziam que ele era merecedor de uma mulher melhor, alegando que a família daquela jovem não tinha nenhuma posse.
O noivo vinha de uma família com certas posses, que detinham em seu patrimônio terras e imóveis, que apesar de serem vários imóveis, o valor do montante não era tão alto assim.
A jovem por sua vez vinha de uma família honrosa, cujo pai era um simples operário, que tinha em sua esposa e seus filhos o seu maior patrimônio. A conduta social do pai da jovem era respeitosa e incontestável, sendo este o seu cartão de visita. Por onde ele andava naquele vilarejo, era aceito e querido por todos que o conheciam.
Mesmo contra alguns parentes de Carlos, o amor dos jovens foi fortificando-se, derrubando os empecilhos que iam se erguendo e que se opunha à união deles, que tentavam ocasionar o fim daquele romance. Obstáculos se desmoronavam um a um, e o casal saia vencedor de todas as crises existentes.
 
página 12
 
Entre estes empecilhos, algumas pessoas profetizavam que ele não seria feliz, e estas palavras mal ditas foram rogadas dentro do seio da própria família de Carlos.
Mesmo tendo dentro de casa tamanhas criticas, não houve palavras e fatos que conseguissem contagiar e separar o romance que ali se fortificava.
Este romance foi plenamente acolhido pela família da jovem. Na ocasião seus pais sempre deram a permissão e a benção para este relacionamento, mesmo sendo ela a caçula mulher de uma família de seis filhos.
Pouco tempo após o inicio do relacionamento, aconteceu o grande dia esperado por todas as mulheres, o dia do casamento do corpo material, pois suas almas já estavam unidas pelas bênçãos de Deus.
Com a concretização desta união estabelecida pela cerimônia religiosa, via-se o olhar brilhante de felicidade e esperança de uma vida eternamente feliz, refletindo-se na harmonia conjugal.
Com a passagem de alguns meses foram sendo feitas descobertas felizes e o acerto de sentimentos entre o casal. Suas atitudes foram ficando uniformes dentro daquele novo lar.
Ao mesmo tempo em que esta família crescia com a união deste casal, o amor novamente batia a porta, contagiando mais um de seus membros.
Pois o amor é um sentimento puro, surpreendente em seus caminhos e misterioso em seus encontros, fugindo de nossa ideologia e de toda a sua compreensão.
Sendo Livramento uma cidade onde todos se conhecem, era impensável a peça que o destino pregaria agora no irmão da jovem, o mesmo que fora servir também na revolução e que todos o conheciam com Cunha.
 
página 13
 
Após o serviço militar, Cunha decidiu que se tornaria padre, enchendo de orgulho seus pais, principalmente sua mãe, que sonhava ter um filho que abraçasse o sacerdócio.
Apoiado por todos, Cunha se internou em um seminário, em outra cidade, pois Livramento não era agraciado com esta escola.
Ah!...
Amor bandido...
Nunca os filósofos e boêmios imaginariam que naquele internato o coração daquele jovem palpitaria fortemente por alguém.
Mas o inesperado acontece geralmente nos lugares mais improváveis.
Nas escolas de ensinos religiosos sobre o regime de internatos é costumeiro dar certa liberdade para os internos, para por a prova suas vocações religiosas, sendo o mesmo feito nos conventos.
Em um destes acasos da vida, em que os jovens são postos a prova, com intuito de promover a confirmação da vocação dos noviços, descobrindo se eles iriam usar suas vidas para servir a Deus no pastoreio de seu rebanho, ou serviriam de instrumentos da vontade dele sendo as próprias ovelhas.
Cunha, um jovem idealista como tantos outros de sua época, num destes movimentos do seminário seria surpreendido pelo amor, e o deixaria a frente de um encontro que mudaria o seu destino por toda vida.
Neta festa patrocinada pelo seminário e o convento, Cunha encontraria uma noviça que lhe fez acender o sentimento que acelerou o palpitar do seu coração.
Aos poucos ao conhecê-la melhor, descobriu o brotar da paixão fulminante, paixão esta que se iniciou na adolescência,
 
página 14
 
pois ele sabia que sua amada era sua conterrânea, já tendo observado-a quando menina pelas ruas de Livramento.
Seus sentimentos eram espontaneamente correspondidos.
Dias após os primeiros encontros, Cunha voltou para Livramento, sendo que desta vez ele não foi a passeio e sim definitivo, surpreendendo principalmente seus pais.
Sua amada também deixou a vida do internato, deixando também todos admirados com a sua decisão de por fim aos votos da irmandade, muitos conhecidos apostavam na vocação da jovem.
Mas ninguém imaginava qual foi o motivo que levou os dois jovens a mudarem de ideia ao mesmo tempo.
Surpresa maior foi quanto houve a revelação do romance deles, assumindo o namoro perante suas famílias.
A irmã caçula de Cunha estava toda alegre, porque sua relação com ele era de cumplicidade, para ela seu irmão estando alegre ela também estaria, a jovem tinha a sensibilidade de conhecer os sentimentos de seu irmão apenas no olhar.
Sua irmã caçula era conhecida por todos como Virginia, exatamente a que há pouco tempo atrás havia se casado com Carlos Augusto.
Virginia nesta altura não era mais uma simples menina, ela havia se transformada em uma bela mulher, com uma fisionomia marcante.
Da união de Carlos e Virginia, como de tantas outras uniões, originaria uma nova vida, que sobreviveria ao mundo de pedras, e ao frio dos sentimentos das almas dispersas e adversas aos nossos conhecimentos.
Como em todo conto de fadas, nasceriam seus príncipes e princesas que substituiriam pela ação natural do tempo seus pais.
Com Carlos e Virginia não seria diferente.
 
página 15
 
Em um belo dia, Carlos ao chegar a casa teve sua primeira surpresa após o casamento, que foi o anúncio que no ventre de Virginia estava seu primogênito.
Um filho é o principal elo dos casais, e aqui estava se construindo a aliança de Deus, da união de Carlos e Virginia.
Para Virginia no inicio não foi nada fácil, ela tinha muitos enjôos. Como era a primeira gravidez tudo era mais difícil, e se agravava ainda mais pelo temor da inexperiência e do obscuro caminho da espera.
Na cidade onde eles moravam os dias se passavam lentamente sem nenhuma pressa.
Como em toda cidade interiorana, Livramento era desprovido de cuidados tecnológicos e muito carentes de recursos financeiros para atender sua comunidade.
Naquela cidade não havia muitos carros, e médicos então eram considerados artigos de luxo.
Hospitais eram coisas do mundo moderno e os partos eram feitos à maneira antiga, quando as mulheres eram entregues aos cuidados das parteiras, cujo único conhecimento que tinham era da pratica, quase todas mal sabiam ler ou escrever, quem diria conhecer a anatomia humana para proceder em seus afazeres, mas eram os únicos recursos que aquelas cidadelas tinham.
Os acessos a estas comunidades eram de estradas de terra batida e que em épocas de chuvas, ficavam intransponíveis, somente cavalos e pedestres conseguiam transpô-las.
Nem só de dificuldades as pessoas viviam nestes lugares, pois elas possuíam a alegria de viver em suas pequenas vitórias.
Para o jovem casal a felicidade bateu em sua porta pela segunda vez quanto Carlos conseguiu o tão esperado emprego no banco.
 
página 16
 
Geralmente nestes vilarejos é normal confraternizações serem praticadas em datas especiais, que na maioria das vezes se transformam em festas.
No interior também existem várias festas em sua maioria religiosas, e Livramento não fugia a regra. Existia lá uma grandiosa festa no mês de setembro conhecida por muitos, aonde os romeiros vinham aos milhares em nome da fé, para participar deste jubileu.
Toda casa de Livramento era antecipadamente preparada para os festejos e seus moradores também esperavam esta época com ansiedade, por que nestes dias seus familiares que moravam em outros lugares vinham rever os seus, ao mesmo tempo renovar sua fé em Cristo.
Toda família era envolvida no preparo da cidade para este grande dia, e com os nossos recém-casados não seria diferente.
Nesta ocasião Virginia preparava seus quitutes e guloseimas para receber pela primeira vez em sua casa os seus familiares e os de seu marido.
Já com sua gravidez em um estado avançado, ela se mostrou deste o inicio guerreira, não se fez dobrar pelo peso da barriga.
Virginia normalmente foi preparar seu lar nos dias que antecederam a festa, deixando a casa um brinco e a despensa cheia.
Ela preparou suas roscas e biscoitos como de costume, e sua expectativa era grande.
Ao iniciar o mês de setembro Virginia começou a sentir mais fadiga um cansaço natural da gravidez, mas a alegria sempre sobressaía a este cansaço. O casal sabia que a festa era dos dias onze aos dias quatorze do referido mês, e que o parto
 
página 17
 
era esperado para o mês vindouro, lhes deixando mais tranquilos para receber a seus convidados.
Desprovida de acompanhamento médico e das famosas ultra-sonografias, que naquela época eram conhecidas somente pelo nome, Virginia e Carlos não sabia ao certo o sexo do bebê, nem mesmo o período de gestação, somente presumiam a data do parto pela contagem das semanas. Através desta contagem esperava-se que a criança nascesse no mês de outubro.
Com todo este cuidado o jovem casal se preparou para a festança, mas mal podiam eles saber a peça que o destino tinha lhes reservado.
Chegou o dia tão esperado; e os parentes de Virginia e Carlos já se encontravam em sua casa, dando-lhes durante este período de três dias, o orgulho de hospedarem aos seus.
O dia quatorze era o cume da festa e Livramento, não parecia nem um pouco com aquela cidade pacata do interior. Suas ruas se iluminavam pelo clarear das velas acesas em imensas peregrinações, no acompanhamento das procissões religiosas, na qual se referenciava o padroeiro milagroso em suas crenças, o Senhor Bom Jesus do Livramento.
Virginia e Carlos esperavam por este dia ansiosamente.
Para Carlos havia um ingrediente a mais na espera, pelo fato que ele era um religioso virtuoso e um dos membros da irmandade que coordenava toda aquela festa e sua multidão, para que tudo acontecesse sem que houvesse quaisquer transtornos.
O casal estava festejando e contente com os acontecimentos, pois era a primeira festa que passavam juntos e continha também a alegria da espera do filho, eles só não podiam imaginar que as ansiedades a respeito da festa e da espera do filho acabariam juntas.
 
página 18
 
No decorrer do dia doze de setembro, Virginia estava se sentindo um pouco indisposta, pressupunha-se que o cansaço era efeito dos preparativos da festa.
Com a indisposição, Virginia recolheu-se em seus aposentos mais cedo do que de costume, apenas com o pressuposto que iria deitar-se para descansar.
Carlos neste momento se encontrava em seus afazeres religiosos e festeiros, só de madrugada era sua previsão para retornar a sua casa, após terminarem todas as cerimônias religiosas.
Ao retornar a sua casa, Carlos preparou-se para ir descansar, pois a sua maratona religiosa continuaria no dia seguinte. Foi neste momento que ficou sabendo da indisposição da esposa, porém Virginia ao deitar-se teve seus sintomas incômodos sanados por si só.
Ao amanhecer do dia treze, era de costume orquestras regionais acordarem toda cidade com suas sonatas e hinos de louvor.
O dia ia decorrendo normalmente, até então sem nenhuma surpresa aparente, mas para Virginia e Carlos a surpresa maior ainda estava para acontecer.
As ruas de Livramento iam-se preparando para mais um dia de festa e cerimônias.
Carlos já se encontrava pronto para voltar à igreja, foi na hora que ele deu o beijo de despedida em sua esposa, quando notou que algo de diferente estava acontecendo com Virginia.
Ela começou a reclamar de fortes dores abdominais, porém não tinha nenhum sangramento nem secreção do líquido uterino, para que se achasse que a bolsa tinha rompido.
A angústia tomou conta de Virginia e Carlos, pois eles temiam que algum problema estivesse acontecendo com seu
 
página  19
 
filho, pois pela contagem das semanas Virginia tinha entrado no oitavo mês de gestação.
Logo Carlos saiu à procura daquela mulher que era a única pessoa que poderia lhe acalmar, ou pelo menos era isto que ele esperava: Mas com tanta gente na cidade a procura foi longa, até o momento em que Carlos achou a Dona Mariinha a parteira.
Esta senhora era considerada por muitas pessoas a mãe de todos, porque quase toda criança que nascia naquela cidade vinham ao mundo pelas suas mãos.
Dona Mariinha com sua imensa sabedoria, logo que viu Virginia, percebeu que ela já se encontrava em um trabalho de parto avançado, prematuro ou não aquela criança não queria ficar mais no ventre da mãe, então eram chegados à hora e o dia.
As ruas de Livramento estavam a festejar, e enclausurados naquela casa estavam Carlos e o pai de Virginia na sala a esperar, enquanto no quarto estavam Virginia e a parteira. Envolvidos por aquele clima misturavam-se, a alegria da hora com a angústia e o temor pelo que poderia vir acontecer prematuramente.
Todos esperavam o final daquele parto. Durante o trabalho de parto chegou à casa de Carlos, o senhor Sebastião que era um grande amigo do pai de Virginia.
Foi como um passe de mágica, que ao mesmo tempo em que se estouravam os rojões da festa na cidade anunciando uma nova cerimônia; vinha ao mundo faceiramente como quem não quer nada, aquela criança, que saiu do ventre de Virginia em um único esforço sem que houvesse uma única gota de água uterina. Só logo após seu nascimento é que se constatou que aquela criança foi gerada praticamente envolta pela placenta, contendo nela níveis baixíssimos de água. Aqui se fez valer à experiência de Dona Mariinha.
 
página 20
 
O primeiro a pegar no colo aquela criança foi exatamente o senhor Sebastião, que falou naquele momento que ali nascera mais um sobrinho, tamanha era a sua consideração com a família de seu amigo.
Foi a partir deste ano, que o dia treze ficou muito mais memorável para aquela família, nascera naquele dia o primeiro descendente de ambas as famílias, sendo aquela criança o primeiro filho e o primeiro neto, paterno e também materno.
Os avós, tios e tias agradeceram por esta vida, que veio ao mundo para abrilhantar o lar de Virginia e Carlos.
Senhor Laurino, pai de Virginia, com sua sabedoria e simplicidade, contou os dedinhos de seu neto, e saiu todo sorridente ao perceber que mesmo prematuro, seu neto era belo e saudável.
A vinda deste filho serviu para unir mais ainda e concretizar o alicerce daquele lar, pois muitos obstáculos Carlos e Virginia passariam, mas agora sob os mandamentos cristãos de crescei-vos e multiplicai-vos.
Os dias se passaram e logo veio a necessidade de batizar aquela criança, de acordo com os costumes doutrinários e éticos daquela família.
Vários nomes surgiram, mas em homenagem a um padre, aquela criança recebeu o nome de Giovane.
Carlos Augusto tinha na sua formação a ideologia de crescer e se tornar cada vez mais poderoso e autossuficiente, mas como ele detinha pouco estudo, sentiu a necessidade de dar continuação em sua formação acadêmica.
Na infância ele foi obrigado a largar seus estudos para ajudar na criação de seus irmãos mais novos, sendo ele o primeiro filho entre treze irmãos, ficando a cargo dos primeiros filhos ajudarem aos demais, com isto não lhe sobrou tempo para realizar seus sonhos.
 
página 21
 
Mas agora homem feito, casado e independente, chegou a hora de ir a busca de seus ideais e recomeçou a estudar. Como em Livramento não tinha o ensino médio, Carlos Augusto matriculou-se no curso de contabilidade, em uma cidade vizinha.
Já era de seu saber as dificuldades que passaria para concluir seus estudos. Ele teria que toda a noite percorrer trinta e cinco quilômetros em estrada de terra, estando a noite com o reluzir da lua ou com o chorar das nuvens do firmamento.
Perseverante e lutador, Carlos acordava antes do amanhecer e encontrava na mesa de sua casa o café servido por sua esposa, que zelava pelo seu bem estar, indo para o serviço logo após sua primeira refeição, despedindo-se de Virginia e Giovane.
Ao entardecer Carlos seguia direto para a escola. Na maioria das vezes retornava ao seu lar muito cansado, somente altas horas da madrugada, perdendo o presente da natureza de presenciar seu filho crescer, dar os primeiros passos.
Carlos contido por suas várias obrigações sem perceber foi deixando a responsabilidade de educar e criar Giovane somente para Virginia, que desempenhou muito bem esta função de pai e mãe.
Giovane aprendeu seus primeiros passos e era pajeado por todos, em especial por sua tia Tereza, que por um acaso da vida, foi brindada com um banho de urina no momento que trocava suas fraldas logo que nasceu.
Mas algo de estranho começara a acontecer, pois o retorno de Carlos da escola começou a adentrar as madrugadas e Virgínia notou que havia certa indiferença por ela e por seu filho, mesmo assim fizera de despercebida perante os fatos.
Ela imaginava que esta mudança de comportamento de Carlos fora motivada pelo cansaço físico em que se encontrava, e nos poucos momentos de quietude e afinidade entre eles
 
página 22
 
reservava não para discutirem a relação, mas sim, para matar saudades e se amarem.
Como toda ação causa uma reação, destes momentos de afinidade originou-se a segunda gravidez de Virginia. Nesta época Giovane tinha apenas dois anos e dois meses.
Com esta nova gravidez Carlos ficou ainda mais distante de sua esposa, deixando-a sentir-se rejeitada e triste.
Muita das vezes Virginia fora surpreendida por suas vizinhas chorando pelos cantos da casa, mas ela nunca reclamou de nada e nem mesmo revelou a ninguém o que estava se passando, pois aceitava quietamente todo este sofrimento e repulsão.
Mesmo diante de todas estas circunstâncias, Carlos ainda a respeitava, ele até então nunca tinha alterado sua voz para sua amada.
Neste período Virgínia recebeu o convide de casamento de uma de suas amigas que eram consideradas como primas, pois havia um laço de afinidade muito grande entre senhor Laurino e o pai de sua amiga, chegando a ponto do senhor Laurino considerar como irmão seu companheiro de tantas jornadas.
O referido casamento aconteceria em uma cidade do Estado de São Paulo, para ser mais exato no grande A.B.C. Paulista.
Como eram elas muito ligadas, Virgínia pediu a Carlos a permissão para ir com uma de suas irmãs ao casamento, levando com ela Giovane.
Carlos na data do casamento estava trabalhando não podendo assim acompanhá-las ao enlace matrimonial, e pela sensatez que ele tinha não se fez de rogado, e não só a deixou ir, como deu todo apoio para que ela fizesse a viagem.
 
página 23
 
Porém a viagem não seria simples e agradável, e sim muito cansativa. Em Livramento não havia fácil acesso para viagens para qualquer destino que fosse, e nem conduções regulares de veículos, em sua maioria estes deslocamentos eram feitos por linhas férreas, possuindo um único horário diário que ia para uma cidade do estado do Rio de Janeiro, e de lá elas deveriam se deslocar para o estado de São Paulo.
Carlos movido aparentemente pelo amor a sua esposa e filho, arrumou uma carona para elas com um amigo de serviço que a levaria até Barra Mansa cidade da baixada fluminense, deixando-a em companhia de sua irmã Maria.
Maria combinou de esperar Virginia na rodoviária local, e dali elas já seguiriam viagem para o seu destino final.
Ads by PlusHD.3Ad Options
Virgínia estava toda alegre com o apoio de seu marido, porém com um semblante de preocupação, que incandescia do fundo de sua alma, deixando a dúvida do querer ir ou ficar junto de seu amado. Esta dúvida era proveniente da imaginação de como ficaria Carlos sozinho, porque tudo que ele queria ela lhe entregava nas mãos. Até mesmo a toalha do banho, era Virginia que levava ao banheiro para seu amado, esta seria a primeira vez que o deixaria após dois anos de casada.
Mas Virgínia estava deslumbrada com tal cavalheirismo e compreensão de seu marido, seus olhos brilhavam de felicidade, e assim deram continuidade aquela viagem e aqueles dias.
Na rodoviária de São Paulo, o senhor Sebastião já as esperava.
Sebastião era o nome do grande amigo do pai de Virginia, o mesmo que pegou ao colo anos atrás o recém-nascido Giovane. Logo que Virginia, sua irmã e Giovane desembargaram na rodoviária, Sebastião as recebeu com o maior carinho e alegria.
 
página 24
 
Aqueles dias foram dias de festejos e comemorações, todos os sentimentos de rejeição que passara Virginia em dias anteriores foram esquecidos, voltando a alegria do sorriso na face daquela mulher.
Toda aquela alegria fez crescer a saudade que Virginia sentia de Carlos, logo ela foi ficando ansiosa para retorna ao cotidiano de sua vida. Os dias se passaram lentamente mesmo sendo eles prazerosos, diante do convívio amoroso daquela família. Mas desta vez, uma semana apenas para Virginia começava a parecer tempo demais. Não era porque não estava gostando da viagem, mas sim, motivada pela saudade do amor eterno.
O dia do regresso chegou.
Virginia, Giovane e sua irmã saíram de São Paulo com destino a Barra Mansa.
Chegando à casa de sua irmã, Virginia pediu para que Carlos a buscasse no dia seguinte, sendo que esta viagem para ele não seria nenhum sacrifício, por que estas viagens eram feitas rigorosamente todos os dias para levar o malote do banco no qual trabalhava, e Carlos estaria mesmo na cidade aquele dia, era só ele passar na casa da irmã de Virginia para pega-los.
Estes malotes eram levados pelos funcionários daquela instituição, em seus carros particulares. Nenhuma má conduta profissional poderia Carlos estar tendo ao levar o malote e na volta trazer sua família.
Assim Carlos o fez.
Virginia logo que viu Carlos notou algo de estranho em seu olhar, era um olhar frio, sério, com certa mazombice. Mau Carlos cumprimentou sua cunhada e seu cunhado, foi se retirando, pegando as bagagens de sua esposa, colocando-as ao carro alegando que estava com muita pressa.
 
página 25
 
Nesta pressa inexplicável Carlos mal falou com Virginia que lhe esperava com tantas saudades, ignorando completamente a Giovane que foi a sua direção correndo com os braçinhos abertos, demonstrando suas saudades em seu pequenino sorriso.
Ali voltava toda realidade que por alguns dias ficaram para trás, só que com um agravante que ainda aconteceria.
Na viagem de volta, dentro do carro, Carlos começou a esbravejar demonstrando a sua outra face para sua esposa, lado este ainda desconhecido por ela.
Mesmo sem nenhum motivo aparente Carlos foi tomado por um impulso de ciúmes, desfigurando-se repentinamente e alegando que sua esposa estava tendo um caso amoroso com o senhor Sebastião, o amigo de seu pai.
Carlos estava indo mais além, e tudo que saia de sua boca era assombroso, ele chegou ao extremo de dizer que, o suposto motivo da verdadeira razão que levou Virginia a pedir permissão para ir aquele casamento, foi o desejo de encontrar com o seu amante.
Carlos começou através destas suspeitas infundadas a alegar a infidelidade de sua esposa, mas mal sabia ele que com este julgamento poderia estar cometendo um de seus vários erros em sua vida, sendo este o mais grave entre todos.
Uma viagem que poderia ser tranquila começou a se transformar em uma turbulência de medo e pavor para Virginia com seu filho.
A fúria que se encontrava Carlos fez com que por várias vezes ele perdesse a razão, ameaçando jogar o carro pelas ribanceiras abaixo existente naquele trajeto, esbravejando que por motivo deste romance destruiria a vida de todos.
No momento de sua insanidade, ele mal se lembrava de que Giovane estava no banco traseiro do carro presenciando tudo.
 
página 26
 
Ah!...
Pobre criança, que mal compreendia as coisas da vida já começara a conhecer a fúria dos homens. Aquele rostinho angelical ficou durante toda a viagem desfigurada, com seus olhos grandes demonstrando que estava assustado, e com sua face de choro, sem sequer dar um único ruído, tamanho era o seu pavor.
Giovane encolhera no banco de trás daquele veiculo e ali permaneceu, sendo em sua pouca idade ocupante do expresso do medo, e conhecedor do véu amargo dos ciúmes e da culpa de seu pai.
Virginia como sempre protetora e vendo o seu filho presenciar aquela discussão, por várias vezes pediu a Carlos que relevasse seus gritos, e deixasse para brigar longe dos olhares atento de Giovane, e se por algum motivo tivesse que penalizar a sua conduta, primeiro ele deveria deixar tirar seu filho do veículo, pois ele nada tinha a ver com aquela discussão.
E se Carlos realmente quisesse jogar o carro para fora da estrada, que fizesse somente com os dois dentro dele.
Mas Carlos aos poucos caiu na real e a vergonha de seus atos começou a lhe consumir por dentro, porém seu orgulho nunca o tinha deixado pedir perdão e não seria ainda desta vez que aconteceria isto.
Talvez este pedido de perdão nunca houvesse acontecido, porque para ele pedir perdão era para os fracos e pusilânimes, não sendo este o seu caso.
Mesmo assim a viagem prosseguiu, agora com uma tranquilidade aparente, pois não tinha mais as discussões, restaram somente o sentimento ruim da desilusão que começou a marcar aquela família, e principalmente Virginia.
Como toda mulher grávida, que sempre fica mais sensível neste período de suas vidas.
 
 
 
 
 
 
                                                 Biografia:
        Nasci em uma pequena cidade na serra da Mantiqueira Mineira, chamada Liberdade, moro atualmente em Caxambu, cidade hidromineral do sul das Minas Gerais.    
Em meus estudos sempre fui mediano em Português e Literatura, correndo de suas normas e me irritando com as letras, pois eu as via como um obstáculo em meu caminho, pela dificuldade que eu tinha em distinguir os fonemas.
No passado este foi meu desafio.
Os médicos sempre falavam que eu tinha a língua presa, que este era o motivo real daquele meu problema.
Com a evolução das ciências medicinais, aquela minha dificuldade ficou conhecida por dislexia.

Hoje me acalento a beira de um teclado,
 tendo o computador como meu aliado;
deixo meus pensamentos e sonhos nele anotados.

E as dificuldades que eu tinha no passado,
não me fizeram ser um derrotado.
Além desta obra, possuo outras a serem publicadas.
A descoberta do dom para a autoria de romances, veio por acaso.

Com incentivo de sua esposa Rosilene, filhos Braian e Brendow e alguns amigos, as primeiras linhas foram escritas, logo as linhas viraram capítulos e em seguida já era um livro.
Assim surgia a primeira obra, a segunda, a terceira e outras. 

                                                            Conheçam partes de nosso romance.
 
Ads by PlusHD.3Ad Options

                          No alvorecer do dia vinte seis de dezembro, o eclipse da vida caiu sobre o dia radiante do patriarca desta família derrubando todas as esperanças de uma aurora vitoriosa, ruindo a alegria semeada nas comemorações da noite anterior...
                         Página 121.


                        Ao abrir a porta da sala da diretoria do hospital, deparou-se com um verdadeiro Big Ben que se fez a sua frente, sua devassidão se transformou em um imenso buraco negro, retirando todo o alicerce de seus pés, deixando-a sentir na carne o abraço do crocodilo. 
                       Tamanho foi o espanto de Virginia, que pela ausência de atitudes, virou-se debandando em retirada para a sua casa, de cabeça baixa, com o ardor das lágrimas que escorriam em sua face...
                        Página 51

                    A tarde já se punha no horizonte como uma suave dama da noite, fazendo anunciar a chegada do crepúsculo.
                   Uma suave brisa de outono corria para o norte, deixando a bailar as folhas das árvores da mata ciliar.
                   Os pássaros procuravam seus abrigos nas copas das grandes árvores, e os animais noturnos saiam para a mata, ao anunciar do entardecer pelo pio da coruja.
                    Página 144

 
                     O sol ia se pondo no horizonte deixando a tarde ainda mais bela, os campos estavam verdejantes, com gados murmurando sobre as suas pastagens, as seriemas ao longe repicavam seu cantar anunciando a complementação da beleza natural da região, que aos olhos dos viajantes das cidades de pedra, viam nestas cenas as verdadeiras obras criadas com maestria pelas mãos de Deus, para a alegria dos filhos seus.
                    Página 130


 



Leia mais: http://www.escritor-leandro-campos-alves.com/instinto-de-sobreviv%c3%aancia/

Nenhum comentário:

Postar um comentário