terça-feira, 8 de julho de 2014

GuerreiraXue

 Leandro Campos Alves é natural da cidade Mineira de Liberdade.
Cronista, Poeta e Escritor romancista que desponta na literatura brasileira, recentemente publicou em 09/2013 a o romance Instinto de Sobrevivência pelo Clube de Autores e o Ebook pela Editora Saraiva; participou da Antologia Além do Olhar de 01/2014; em 27 de fevereiro de 2014 publicou a nova forma literária de redigir romances, O Lamento de José, pelo Clube de Autores e o Ebook pela Editora Saraiva.
Foi jurado da segunda amostra de Raízes de poesias em Aiuruoca MG em 12/2013.
Têm em seu currículo várias entrevistas, entre elas, a do Divulga Escritor, Conexão Portal PB, Pensando Fora da Caixa, elaboradas pela Jornalista Shirley M. Cavalcante, de João Pessoa Paraíba, reeditada na edição especial de natal de 2013, Revista Literária da Lusofonia - Divulga Escritor, e divulgada em Portugal.
Em abril de 2014, participou da edição especial comemorativo de um ano da Revista Literária da Lusofonia - Divulga Escritor, com artigo sobre o romance Lamento de José.
Participou de uma nova reportagem para Revista Gota D’água, Edição 10 de Janeiro 2014. Revista circulante para os funcionários da Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais.
Colaborador de várias comunidades literárias no país e outras em países latino americanos, integrante e colaborador da ”Social Rearde Writer Artist” no Brasil, Milan e Roma e, Recanto das Letras.
Em Junho de 2014, iniciou os trabalhos como Colunista do projeto Divulga Escritor, de João Pessoa Paraíba.
 Suas obras já atravessaram o atlântico.
Autor do Clube dos Autores e, recentemente firmou contrato com a Editora publique/Saraiva.

Para melhor conhecê-lo acesse seus sites: 



GuerreiraXue

27/04/2014 11:54
         Tenho o prazer de ter em nosso meio o trabalho desta escritora, que com o codinome forte e guerreiro, que ao mesmo tempo esconde sua sensibilidade poética e amiga, nos presenteia com alguns de seus trabalhos.   E para meu prazer e felicidade, ela me falou que neste ano de 2014, estará participando da bienal do livro em São Paulo com lançamento de seu novo trabalho.  Convido aos leitores que passarem pela Bienal a descobrir quem é essa Escritora, a estrutura de seus trabalhos não a deixara passar despercebida pelo seu codinome.  
     A todos boa leitura.   


         Guerreira Xue


MEU LABIRINTO

..É um cheio de ruas tortas
Os caminhos são estreitos
Tem algumas linhas retas
E muitas casinhas sem portas

Meu labirinto é grande
E foi eu mesma que inventei
Com alguns becos sem saída
E quando penso que me achei
Estou de novo, perdida

Meu labirinto é de tempo
No meu tempo de labirinto
E quando corria na noite descalça
Não importava se era noite ou vento

Hoje com saudade, eu sinto
Que niguém na volta, sabe
Nem consegue compreender
É cada um de nós, quem cria
O seu próprio labirinto de viver
 
Guerreira Xue 

SOU, SOMOS...

Confesso
Que sozinha sou nada
Uma folhinha no vento
Uma poeira na estrada
Mas juntos, somos tudo
Somos Deuses
Juntos, somos o mundo
E somos o sagrado
Somos o que vestimos
Somos o que comemos
O que lemos
e que escrevemos
E o que dizemos e fazemos
Confesse voce também
Que sozinho
és ninguém
Somos predestinados
Temos o céu, a terra
E tudo que há nela
Apaixonados
Sonhamos e realizamos
E neste tempo vivido
Edificamos e destruímos
E sem nós
Tudo o mais que existe
perde totalmente o sentido.
 
Guerreira Xue

... E O MUNDO VAI DANDO A VOLTA.

... E o mundo vai dando a volta. 
    Orlando era homem rico, bem sucedido e tinha tudo que podia desejar. E como se dizia ser um privilegiado, também gostava de ajudar. Quando se pensa em ricos emergentes, pensamos que todos são uns malandros e espertinhos que num golpe de sorte, se deram bem na vida. Não era o caso de Orlando. Não é que não precise-se de alguma astúcia e entendimento para atuar no mundo business, é que ele era um "batalhador", e tinha muito orgulho disso. Ele tambem tinha uma atitude sempre positiva com relação a vida afetiva, profissional ou pessoal. -Problemas sempre se tem em qualquer instancia, então o jeito é administrar com paciencia. Dizia o sujeito de bom humor. Sendo forte empresário da tecnologia da informática e tudo corria bem mesmo até que um dia, a sua vida começou aos poucos, desabar... Mas vamos por partes, que não quero ninguém entediado aqui. A empresa estava com falta de funcionários e estavam admitindo em vários setores. Todos os candidatos de primeiro escalão que passavam pela primeira seleção, e tinham a segunda etapa, uma entrevista com o próprio presidente da empresa. Quando a secretária anuncio-o, Orlando o convidou a sentar-se que logo o atenderia, pois estava ao telefone. Por instantes o presindente pensa conhecer aquele rapaz de algum lugar Comprimentam-se. -Jardel Menezes, muito prazer! -Fique a vontade Jardel e sente-se.Voce é de onde mesmo? -Nascido e criado em Macaé. Disse o rapaz todo simpático. -Interessante ...Também sou desta cidade. Gostei do seu curriculo. Voce mora ainda em Macaé? -Só minha mãe e minha irmã que ainda moram na casa onde nasci. Eu me mudei para a Barra da tijuca, tem um ano e meio que moro aqui e só vim ver esta vaga por incistencia dela, sabe. -Não entendi...Por incistencia de sua mãe? -Sim minha mãe o conhece de Macaé, senhor. -Sim! E como ela se chama? Tenho de agradecer-lhe por me mandar seu filho tão bem qualificado. Disse Orlando curioso. -Alice, Alice Menezes. Jardel fala pausadamente, enquanto vai observando as feições mudar bruscamente. -Alice Menezes é a sua mãe? E são interrompidos pelo interfone que toca anunciando a reunião dos acionistas... -Que coincidencia isso, fomos amigos de colégio! Temos que conversar mais alias, coincidencia não é, uma vez que ela o mandou vir, não e verdade? O rapaz pareceu ter perdido um pouco a segurança e retrucou logo. -Repito que só vim por causa dela. E despediram-se com Jardel sendo indicado ao departamento pessoal, pois estava admitido como diretor executivo junior... Foram dias de grandes atribulações comerciais por conta da crise que assola o mundo moderno, disputas por mercado, mão de obra qualificada... A empresa de Orlando ainda de pequeno porte (start-ups), precisa de incentivo de aceleradoras, incubadora ou fundos de investimentos para crescer, claro que esta ajuda é em troca de participacao acionaria. As vezes Orlando lembrava-se do que disse o rapaz, Jardel...Quem diria que o filho "dela" iria ter um dia com ele na empresa! Parecia que haviam passado séculos desde os tempos de escola... Bem razão tem, quem diz que o mundo da voltas, e quase sempre, vai parando no mesmo lugar ou nas mesmas estações. -Estou em outra agora e não tem mais lugar para voce na minha vida. Lamento muito e fico com pena, se voce não compreender. Foi tão fácil dizer aquilo para ela. Ainda lembrava das lágrimas que brotavam daqueles olhos. Orlando não teve pena mesmo, era isso ou apodrecer naquela cidadezinha sem futuro. Pensava ele, e essa explicação aplacava a sua conciencia agitada. Queria que ela tivesse o acompanhado, porém a mãe estava doente e...Ela acabou por vir a seu encontro no Rio de Janeiro tres meses depois, a mãe havia falecido. Orlando já estava envolvido por Cíntia, moça de família de posses e que tiha verdadeira adoração por ele. Hoje Orlando tem um belo carro, roupas caras, e uma esposa tão linda que mais parecia saida de um daqueles anúncios de creme dental. Perfeito! Como se arrepender de ter deixado a pobreza para traz? Orlando pensava. -Só me custou perder Alice. Foi obrigada admitir. Orlando pensava que se alguns sabiam de seu pequeno pecado, já esqueceram faz tempo. Alias até ele, tinha esquecido. Hoje queria, depois destas duas semanas de trabalho exaustivo, chegar cedo em casa, fazer uma surpresa para sua esposa. Passa na floricultura no caminho de casa e compra suas flores preferidas. Ao chegar em casa não há ninguém, dirige-se ao quarto cansado, pois precisa de uma ducha e um drink para relaxar. Ao abrir a porta do quarto seu olhar fica estático. Ali na sua cama, está a sua mulher com outro homem. -Opsss... Que isso! A mulher tenta se desvencilhar do rapaz e levanta ... -Orlando!!! Deixe explicar, não é nada disso que está pensando. - E o que é então... Quem é este ai!? - Não é ninguém Orlando. Vamos para sala e eu te explico tudo, por favor. -Coisa ridícula isso!! Não explique faz favor, não vou suportar mais esta humilhação, ter que compreende-la em sua traição. Nesta noite Orlando foi dormir num hotel, e só foi rever a "esposa" na frente do juiz, quando assinaram o divórcio. Orlando se atirou mais que nunca ao trabalho, e em consequencia mais rico ficava. De tantas coisa que se faz na vida, o pobre sonha ser rico, e depois trabalha dobrado para manter a riqueza, enquanto que o rico nem liga, se ficar pobre. Uma tarde de reuniões até altas horas, Orlando convida Jardel para um drink. Ao que este meio constrangido e sem muita alternativa, aceita. Já sentados no bar proximo a empresa, os dois vão relaxando... -Como está indo, sente-se adaptado já a empresa? pergunta o patrão. -Sim, confesso que é muito bom trabalhar aqui. Tudo muito funcional e desafiador. Nem esperava tanta tecnologia de ponta. Disse o rapaz entusiasmado. -Estou contente também com seu desempenho profissional, um jovem bem promissor voce. Aposto que logo será promovido. -Obrigada. - Telefone de Jardel toca. Ele pede licença...Fala discretamente e desliga. -Vou precisar me ausentar amanhã senhor Orlando, se o senhor puder me dispensar, compenso no fim de semana. -Algum problema? -Minha mãe tem andado doente e amanhã vai receber os resultados dos exames que vem fazendo. Preciso estar por perto, para apoia-la. Mas volto assim que der. Qualquer dificuldade resolvemos on line, pode ser? -Pode sim, espero que corra tudo bem. Alguma suspeita de prognóstico? -Sim... Cancer. Sem saber o que dizer, Orlando retruca. -Se precisar se ausentar mais , fique a vontade. E mande-lhe lembranças minhas. Jardel acena positivamente e se levanta para sair -Espere...Diz Orlando emocionado. -Sim! -Moram na mesma casa que era de sua vó? -Sim -Morei na mesma rua...Sabia que fomos namorados? Quase me casei com sua mãe. -Sabia. -Acabei por vir para a cidade, me casei com Cíntia, e se tivesse filhos, hoje teriam mais ou menos sua idade. -Não gosta de filhos senhor? -Nem cheguei a me perguntar isso, acredita! Cíntia não queria perder tempo, ou a silueta, mas acho que não me incomodava de te-los tido. Voce lembra muito ela, os mesmos olhos. -Ela diz que sou igual a meu pai. Diz Jardel -Tenho que ir seu Orlando. Obrigada pelo drink e pela conversa, tenha uma boa noite. Orlando chegou em casa tarde, mas perdera completamente o sono.Tinha que pensar...Em Alice. Seu apartamento novo estava em arrumação ainda, afinal não gostava muito de morar em hotel, agora haviam caixas espalhadas pela sala. Sem sono, ele senta-se abre um velho baú onde guarda seu pertences antigos. Luvas de goleiro, Boné do time preferido, albúns de família. Olhando as fotos de criança com os colegas de infância, na escola, férias.Orlando acha uma sua com Alice no dia da formatura.Olhando mais atentamente ele fica pasmado. Aquele garoto ao lado de Alice era identico ao Jardel! Era de manhã e Alice estava preparando a mesa do café, enquanto sua filha estava no banho. A campanhinha toca ...Ela sabe que é Jardel chegando e estranha. -Será que esqueceu a chave! Ao abrir a porta Alice se depara com Jardel e Orlando. Claro que tiveram muito o que conversar, e que jardel e a irmã eram gemeos, e quando a mãe faleceu Alice foi ao encontro de Orlando esperando viver com ele o que tinham planejado antes. Mas a vida tem surpresas e nem sempre agradáveis. -Por que voce não contou da gravidez ? -Porque voce me disse com todas as letras, "não há mais espaço para voce na minha vida". -E não me contar foi um espécie de castigo, certo? -Certo. Ai Orlando, o que é certo nesta vida, me diz? Achei que era a melhor coisa a fazer. Voce nem quis me esperar, foram tres meses longe e voce já estava com Cíntia! Nervosa, Alice respira fundo para continuar esta conversa dolorida. Olha Orlando, não pense que foi fácil cria-los sozinha. Lamento por voce não te-los visto crescer. Mandei Jardel para voce, e logo voce conheceria Amanda. Espero que me perdoe por te-lo privado de seus filhos. Quando penso que estamos tão certos, vamos fazendo e foi isso que fiz. Agora percebo que haviam outras maneiras que sequer cogitei. Assumo meus erros e vou tocando... Ela estava mudada...Tinha o mesmo olhar, mas estava diferente. -Por que voce resolveu fazer isso agora? -Simples, estou morrendo e não quero meus filhos sozinhos no mundo. -Como vou amar filhos que não conheço e nunca vi? Pergunta Orlando triste. Comovida Alice retruca, abraçando-o. -Poe ordem certa nisso ok. Primeiro voce os ve, depois os conhece, e mais adiante, voce os ama. Em menos de noventa dias, a vida de Orlando se transformou inevitavelmente, e sem que ele pudesse interferir em qualquer coisa. Só teve que viver, o quinhão que lhe tocava.

 ... E o mundo continua dando a volta.
 Guerreira Xue




A MENINA DA JANELA

Todo dia que o sol nasce, aparecendo ou não, temos nosso lavoro no campo.
O alarido naquela vila era tanto, que mesmo que quiséssemos ficar um pouco mais na cama, era impossível.
Tinha eu chegado há pouco de Itália, vim ficar em casa de meus tios no Brasil....
Nunca tinha visto dias tão claros na minha vida, depois de quase dois meses encerrado num navio. Minha primeira impressão foi esta, parecia um paraíso.
O trabalho no cafezal era árduo mas, não nos queixávamos, viemos da região da Calábria
tentare la fortuna in america. E aqui estamos, numa fazenda de São Paulo, e eu jamais vi tanto tanto pé de café. <è vero che abbiamo lavorato su questa bella terra, é anche vero che abbiamo avuto grande abbondanza sulla tavola.> Isso já era uma grande benção pois em Itália tudo era escasso.
Esse era Genaro contando aos netos sua história de vida.Todos os verões,eles vinham passar as férias na fazenda do "nono".
- Conte uma história nova vovô, por favor. Pediu Cecilia.
Estavam todos em volta de uma fogueira, com barraca montada, pipoca feita na hora e muito masshmallows assando na brasa.
Genaro adorava contar suas histórias, e sabia que se viesse dar-lhes boa noite, os meninos pediriam que narrasse alguma de suas aventuras. A curiosidade que vislumbrava naqueles olhinhos era uma coisa que o fazia sentir-se vivo e importante. E com um pouco de suspense, como que estivesse a pensar se devia ou não revelar seus segredos, ponderava.
- Deixe ver... Os garotos ansiosos retrucavam logo:
- Por favor, por favor vovô.
- Tudo bem, fiquem quietos que eu começo.
Continuando então:
Nã época eu morava com meus tios por ser solteiro, pois só teria direito a uma casa, quem tivesse esposa.
Todos trabalhavam no cafezais exceto a minha prima mais nova que ficava na fazenda, nos serviços domésticos para a casa grande.
Nos fins de semanas um era escolhido para levar lenha para as casas da cidade,e este ficava encarregado de trazer as compras do armazém para as familias da fazenda, na maioria das vezes era eu, acompanhado do Marcelino.
O Marcelino era um negro enorme, de seus trinta anos já. Foi largado pela familia quando os negros abandonaram as senzalas.A mãe o tinha deixado aos cuidados da Casa Grande, por este ser filho do patrão.
Quando fui a primeira vez a cidade. Marcelino corria para fazer tudo que precisava, e me dizia:
- Ande logo com estas compras, vou distribuir a lenha porque não quero perder a história da moça da janela.
- Que moça? Perguntei. Marcelino logo responde:
- Se quer saber,corre com estas compras Ítalo. Eu nunca perco suas histórias, e não vai ser hoje a primeira vez.
Aquilo me deu uma curiosidade enorme. Que diabo era isso da moça da janela?
Aquelas compras eram as coisas que não se produziam na fazenda e cada família tinha sua relação, só um porém, as letras eram um verdadeiro martírio de serem decifradas.
Entendi logo, porque todos foram tão solícitos em me escalar para estas ditas compras.
Quando acabei finalmente, fui ao encontro de Marcelino todo satisfeito. E quem diz de eu encontra-lo agora?
Perguntando para um e outro se o haviam visto, eles me indicaram uma pequena rua. Lá eu encontraria o Marcelino e mais uma pequena multidão de meninos e meninas, todos sentados, muito caladinhos, diante de uma janela.
Me aproximei lentamente. Foi quando escutei aquela voz, parecia de um anjo. Me aproximei mais, me sentei, e quieto fui absorvendo aquilo como se me tocasse fundo na alma. Me sentia transportado. E não era só eu o encantado ali.
Ela era uma feiticeira, contadora de histórias.
Uma história era sobre um esquimó que ofereceu a filha ao seu melhor amigo, mas ela não o aceitou e pediu aos cães para o levarem para longe, para o perderem no sitio onde nada mais há do que neve. Eles voltaram passado uma semana, sem o amigo do pai dela, que morreu congelado no polo norte.
Outra história era sobre o pagador de promessas, homem vivaço e esperto, que fazia as promessas pelos outros, nem que tivesse de caminhar trinta quilômetros por dia, mas que se fazia pagar ao minuto. Um dia um santo não gostou e castigou-o, pediu a Deus para lhe mandar um raio e ele foi direitinho para o Inferno.
E ainda outra história foi sobre a fazedora de milagres, a princesa da madrugada, que atendia os desejos de todos os desafortunados, mas só um por cada um. Como o primeiro desejo nem sempre era o mais desejado, os desejosos revoltaram-se e decidiram acabar com os milagres na terriola. Conseguiram que a milagreira fosse expulsa e emigrasse para a Amazônia onde passou a curar todas as doenças e expulsou os demônios da floresta.
E por último apareceu a história da rainha que tinha cabelos de ouro e que todos os cabeleireiros do reino os queriam cortar. Ela arranjou uma cabeleireira particular, que transformava os cabelos em ovos de ouro e que os colocava nas galinhas dos mais pobres. Estes enriqueceram rapidamente e a rainha teve de fugir do seu reino, pois todos lhe queriam roubar os cabelos!
A contadora de histórias diz que é ela essa rainha, mas que conseguiu esconder os seus cabelos de ouro debaixo de uma farta cabeleira comprada no mercado da cidade. Ninguém se acreditou, a não ser as crianças, que são sempre mais inocentes do que os adultos e pensam que tudo pode acontecer, mesmo ter os cabelos de ouro!
Contar histórias qualquer um pode e sabe. Porém esta moça nos transportava para o mundo delas, tinha uma suavidade hipnótica a nos conduzir para ambientes mágicos.
Quando acabou e sessão, todos bateram palmas. Absorvido em meus pensamentos fui praticamente arrastado por Marcelino, que de repente ficou com muita pressa..
- Já chega de histórinhas por hoje. Andiamo Ítalo...Este negrinho parecia bem mais um patrãozinho, de bem mandão que era. E confesso que eu queria mais, muito mais ouvir aquela voz maravilhosa .
- Quem é a moça Marcelino?
- Sobrinha do patrão. Ela morava na fazenda antes, nasceu lá. Agora se quisermos ouvir-lhe, temos que vir a cidade. Todo sábado às dez horas da manhã em ponto, ela começa a contar suas histórias encantadoras.
Sempre dou um jeito de vir vê-la. Disse Marcelino enigmático.
Percebendo que a conversa encerrava, Genaro guardou sua curiosidade.

-Eu mais cedo ou mais tarde eu desvendaria aquele mistério.
A partir disso, propus um combinado com as mulheres da fazenda. Pedi-lhes que nos reunissímos na sexta depois do lavoro para organizarmos naquela confusão de compras. Em vez de me darem cada família sua lista, elas me ditavam seus pedidos e eu mesmo fazia as anotações com minha letra. Assim, não perdia tempo desnecessário a decifrar aquela carranchada toda.
Não queria perder de ouvir a tal garota da janela. Aquela voz me perturbou muito. E não havia nada além disso, porque não a visualizei, pois estava distante da janela e tinham outros na frente.
Da vez seguinte seria eu o primeiro a chegar.
É claro que Marcelino ia junto também. Ele era capaz de qualquer sacrifício para ouvir Elisa. E foi com sacrifício também que arranquei esta informação dele.
"Elisa, nome suave, bonito."
Elisa tinha uma particularidade que todos conheciam, apesar de evitarem falar no assunto, era hermafrodita, tinha os dois sexos no mesmo corpo, o que pode embaralhar os outros, mas ainda embaralha muito mais, quem os vive! Foi educada como rapaz em criança, era o Eduardo, Edu para a família e amigos, mas na adolescência ficou com corpo de mulher, com feições femininas, começou a sentir como uma menina, a falar como uma donzela, a crescer como uma senhora. Sempre de saias, a esconder o que desejava não ter, passou a frequentar um psiquiatra e uma psicóloga, que tentavam descobrir a que sexo ela pertencia, apesar de ser evidente demais que a sua beleza não era máscula e que não deixava dúvidas seja a quem for, que era um pecado uma mulher como aquela, ter algo no corpo que a diminuía Mas, como vim a concluir, a história de Elisa era bastante estranha e a própria rapariga sofria com o seu passado, não só com o seu corpo.
Assim passávamos os sádados, levando lenha, sessões de Elisa, e trazendo compras.

Alguns sábado depois... Quando me preparava para ir às histórias de Elisa, Marcelino me diz para eu ir na estação buscar uma sobrinha do patrão que chegava de Paris. Surpreso coma novidade eu respondi de pronto:
- Mas nem sei onde fica a estação. Ao que o negro deu uma gostosa risada
- Não se faça de bobo Ítalo. E ande logo que Elsa tem humor de cão, se ela esperar, não quero estar na sua pele.
Contrafeito resmunguei:
- Descreva-me a bruxa então. Como vou saber quem é?
- Vai saber quem é quando a vir, fique certo.
Louco de pressa fui correndo a estação."Que porcaria!" Queria tanto ouvir Elisa.
Cheguei na estação junto com o trem. No meio daquela confusão toda eu não tinha menor ideia de quem procurar. Porém, quando ela desceu do vagão fiquei estarrecido. Era a Elisa que vinha ali!
Fui a seu encontro e me apresentei
Ela me fitou por uns momentos e disse-me que pegasse logo as malas pois estava muito cansada.
O jeito com que esta mulher me olhou me deixou profundamente irritado. Que arrogante!
E elas eram gémeas.
Fiz aquilo com uma rapidez que ela quase teve que correr para me acompanhar. Quando chegamos a casa de Elisa a recepção não podia ser mais calorosa, as irmãs emocionadas se abraçavam com carinho sincero.
Marcelino era apaixonado por Elisa, isso era mais que evidente. Parecia existir entre os dois uma espécie de aceitação do inevitável. Se adoravam desde tenra idade. Mesmo sem saber o que o destino lhes reservava estavam juntos. Sempre juntos.
- E você vovô?! Perguntou um dos netos,como se não soubesse
- Neste dia começou a minha história com Elsa. Demorou um pouco mais para nos entendermos, pois ela tinha um gênio difícil mesmo.
- Gênio difícil eu?! Olhe quem fala! Surpresos eles olham para a direção da voz
- Vovó?!
E em meios a muitas risadas Elsa retruca. - Perdi o sono, então vim ver o que se passava. Não quis interrompe-los. Fiquei quietinha escutando.
Agora vamos para cama Ítalo querido. Disse carinhosamente ao marido. -E vocês tratem de ir dormir. pois amanhã vamos à pescaria.
Os garotos disseram em uníssono.
- E o final da história?!
- Que final? Não existe final meninos, vêem. Ainda vivemos nossas histórias.
Os meninos ainda insistiam. - O Marcelino e Elisa, a irmã de vovó, eles se casaram vovô?
- Sim, viveram juntos a vida inteira. Não desafiavam as convenções abertamente pois não havia necessidade de se imporem. Só queriam um ao outro. Não lembro de ter conhecido um sentimento mais puro entre duas pessoas tão diferentes.
Então todo sábado íamos à cidade, fazer compras e escutar a garota da janela. É claro, que agora havia Elsa, a irmã voluntariosa.
E todos caíram na risada.

 
Guerreira Xue

 

PALAVRAS TONTAS
São tantas as palavras
que me vem a mente agora...
E ao sair
Estas atropelam-se, umas nas outras
E um medo absurdo de perder a hora
Me toma de assalto
Queria que fosse simples dizer
E dizendo,
tirava logo isso de dentro
Também podiam virar canção
ou que fossem para longe
que o vento levasse embora
Então num repente
eu me calo
Numa louca e descabida esperança
de não ter que explicar
As palavras tontas do coração
que chegam até a boca
e por serem deveras ridículas, não falo.

Guerreira Xue
 
Para conhecer mais seus trabalhos acesse o link e Bom tur virtual neste passeio da sensibilidade femina.



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